26 de set. de 2016

Compradores asiáticos conhecem produção de algodão da Bahia

Foto : Abapa
No início do mês de setembro, a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) realizou no estado da Bahia. A Missão composta por 11 representantes de empresas asiáticas grandes consumidoras de algodão, passou pelos três maiores estados produtores de algodão do Brasil: Mato Grosso, Bapahia e Goiás.
Na Bahia, os asiáticos visitaram fazendas e algodoeiras que representam a cotonicultura baiana e conheceram o Centro de Análises de Fibras da Abapa, localizado em Luis Eduardo Magalhães. “O mercado asiático é muito importante para o algodão brasileiro. Essa é uma grande iniciativa que com certeza trará grandes resultados para a cultura do algodão no país. Temos um produto de alta qualidade e essa oportunidade de poder mostrar o nosso processo de produção é uma forma de gerar credibilidade ao mercado”, disse o presidente da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), Celestino Zanella.
Vindos de Bangladesh, China, Coreia do Sul, Índia, Tailândia e Vietnam, as empresas representam um potencial de compra equivalente a mais de 70% de toda a exportação brasileira de algodão em um ano. Já os países representados por esses compradores estão entre os 10 maiores importadores desta commodity do Brasil, e responderam, em 2015, por quase 50% da exportação nacional da fibra. “As missões de compradores ao Brasil têm se mostrado uma excelente estratégia de aproximação e desenvolvimento de negócios e será especialmente importante nesta safra que tem previsão de superar em 19% o volume de exportação em relação à safra anterior”, afirma o presidente da Abrapa, João Carlos Jacobsen.
Para o gerente de compras da Mars Textile, de Bangladesh, Rezwan Sadat, o algodão brasileiro tem melhorado muito a qualidade e a tendência é aumentar cada vez mais o consumo. “Nos últimos dez anos, tínhamos comprado cerca de 2 mil toneladas de algodão brasileiro. Mas, nesse ano, aumentamos o consumo e compramos cerca de 6 mil toneladas. Temos percebido que a fiabilidade e o comprimento melhoraram bastante e o índice de fibras curtas diminuiu, isso quer dizer que houve um avanço na qualidade”, disse Rezwan Sadat, que também ressaltou sobre a importância de conhecer a produção pessoalmente. “Essa é a primeira vez que venho ao Brasil e está sendo uma grande oportunidade de ver com meus próprios olhos todo o cuidado que os produtores tem durante o processo de produção”, ressaltou.
Missão Compradores na Bahia – Com maior extensão territorial, a Bahia é o segundo maior produtor de algodão do país e o mais importante estado algodoeiro da região nordeste com uma produção de aproximadamente 235 mil toneladas de pluma, exportando cerca de 50% a 60% da produção, nesta safra.
No primeiro dia da missão, na Bahia, os compradores passaram pela Fazenda Busato I e Algodoeira Warpol, do Grupo Busato e participaram de um Jantar de Confraternização, em Luís Eduardo Magalhães. No segundo dia, conheceram a Algodeira Algopar, do Grupo Horita, o Centro de Abastecimento da Ecom, e o Centro de Análise de Fibras da Abapa, que já realizou mais 600 mil amostras das safras 2014/2015 e 2015/2016.
“O algodão baiano tem muito o que mostrar para o mundo. Nós temos qualidade, nós temos sustentabilidade no nosso processo de produção –  tanto na área social, quanto na ambiental-, nós temos garantia de fornecimento e um plano de expansão de área, quando em um futuro bem próximo, estaremos plantando cerca de 500 mil hectares de algodão.  Daí a grande oportunidade que essa Missão nos proporciona, para mostrar ao mercado e principalmente aos compradores de algodão, como conduzimos a nossa lavoura e o nosso beneficiamento, os cuidados que temos com a qualidade do nosso produto e a garantia daremos continuidade no processo e no fornecimento desse algodão”, disse o vice-presidente da Abrapa, Júlio Cesar Busato, ao receber a Missão em sua propriedade.
A Missão Compradores é promovida pela Abrapa em parceria com as tradings ECOM, Louis Dreyfus Commodities, Reinhart e Cargil Cotton.
Fonte: Ascom Abapa

4 de set. de 2016

Pequenos agricultores malhadenses usam sacolas descartáveis para combater mosca branca.




Já é sabido que as cores, por si só já representam grandes significados em nossas vidas.   Culturalmente, somos todos influenciados pela cores. O verde que traz esperança, o branco a paz, o vermelho a guerra, o injustiçado preto que representa o luto, os maus fluidos ,e por aí se segue.
Transferindo o foco para a agricultura, pesquisas apontam o benefício das cores no controle de pragas emergentes e difícil controle como a mosca branca. Dentre elas destacam-se o amarelo e o azul, as quais apresentam um efetivo poder de combate e monitoramento de mosca branca, vaquinhas, pulgões e tripes.
No caso da mosca branca agricultores familiares do município de Malhada vem usando dois materiais adquiridos a custo zero para combate da mosca branca com muita eficiência e sem uma gota de veneno, hoje bicho papão da humanidade uma vez que pesquisas recentes revelam que os brasileiros tomam cerca de sete litros destes pesticidas por ano em função do consumo de alimentos contaminados conduzidos irresponsavelmente no campo  por amadores.
Sacolas descartáveis de supermercados, feiras  ,quitandas, antes com predominância da cor branca, agora  já aparecem na cor amarela. Elas são a principal matéria prima para montagem da armadilha em lavouras diversas. De posse destas, o agricultor  deve adquirir um adesivo também biológico ou óleos vegetais como os das frituras por exemplo.
Munido destes dois materiais, basta espalhar em forma de bandeirola ao lado das plantas (a sacola revestida pelo óleo) e esperar as moscas voarem em direção ao amarelo.  Elas são literalmente atraídas pelo amarelo, se grudam no óleo de fritura e  morrem.





Insetos elevam produtividade agrícola




Estudo em 12 países indica que abelhas e outros polinizadores respondem por 24% do ganho em pequenas propriedades
Embora estejam mais escassos no campo, por causa da redução da área das matas e do uso intensivo de fertilizantes químicos, as abelhas e outros insetos polinizadores respondem em média por 24% do ganho em produtividade agrícola em pequenas propriedades rurais (até 2 hectares). Os outros 76% estão associados à irrigação e a nutrientes e técnicas de cultivo, de acordo com estudo publicado na revista Science no dia 22 de janeiro. Segundo esse trabalho, quanto maior o número de polinizadores, maior tende a ser a produtividade agrícola, principalmente nas pequenas propriedades.
A pesquisa foi financiada pelo Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF) da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), integra-se ao Projeto Polinizadores do Brasil, do Ministério do Meio Ambiente e foi coordenado por Lucas Garibaldi, da Universidade Nacional de Rio Negro e diretor do Instituto de Investigaciones en Recursos Naturales, Agroecología y Desarrollo Rural, da Argentina, com a participação de 35 pesquisadores de 18 países, incluindo o Brasil, por meio de 12 instituições de pesquisa de oito estados.
Estudos anteriores já haviam ressaltado a importância dos polinizadores para a agricultura (ver Pesquisa FAPESP nº 171) e fornecido uma estimativa dos ganhos de produtividade com polinização por abelhas, equivalente a 10% do valor da produção agrícola mundial (ver Pesquisa FAPESP nº 218). Não existiam, no entanto, análises numéricas tão detalhadas sobre os benefícios econômicos dos polinizadores auferidas pelos mesmos critérios em escala mundial.
Nesse trabalho, os pesquisadores analisaram o número de polinizadores, a biodiversidade e o rendimento de 33 cultivos dependentes de polinizadores (maçã, pepino, caju, café, feijão, algodão e canola, entre outras) em 334 propriedades pequenas e grandes da África, Ásia e América do Sul durante cinco anos (2010-2014), por meio de métodos padronizados e uniformes. Nos 12 países analisados, o rendimento agrícola cresceu de acordo com a densidade de polinizadores, indicando que, inversamente, populações reduzidas de abelhas e outros insetos poderia ser parcialmente responsável pela queda de produtividade.
“Demonstramos o potencial do aumento da densidade de polinizadores como forma de aumentar a produtividade agrícola”, disse Antonio Mauro Saraiva, coordenador do Núcleo de Pesquisa em Biodiversidade e Computação (Biocomp) e professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), que participou do trabalho de organização, registro e análise dos bancos de dados. “Nesse trabalho testamos duas hipóteses, o efeito do aumento da densidade de polinizadores e da riqueza de espécies”, disse ele. Para as pequenas propriedades, o ganho de produtividade dependeu da quantidade de polinizadores e não esteve ligado à diversidade desses animais na propriedade. Para as grandes fazendas, em contrapartida, a única forma de se tornarem mais produtivas seria aumentar tanto a quantidade de polinizadores quanto a diversidade de plantas e animais na área cultivada.

Visitantes de flores de maçã na Chapada Diamantina: A) besouro, B) vespa, C) abelha e D) borboleta
“O que mais contribuiu para a diferença entre as taxas de produção mais altas e mais baixas foi o aumento na densidade de polinizadores”, disse Leandro Freitas, pesquisador do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e um dos autores do trabalho. “O incremento no uso de técnicas convencionais de intensificação agrícola, como o uso de fertilizantes sintéticos e monoculturas, apresentou uma contribuição equivalente à dos polinizadores.”
Freitas examinou o cultivo de tomates no norte do estado do Rio de Janeiro com a equipe de Maria Cristina Gaglianone, da Universidade Estadual do Norte Fluminense. “O grau de informação técnica dos produtores era muito baixo”, ele observou. “Muitos não sabiam que a visitação das flores por abelhas estava relacionada à produção dos tomates.”  Um estudo recente da equipe de Breno Freitas, professor da Universidade Federal do Ceará e também coautor do estudo da Science, indicou que a soja, como o tomate e outros cultivos, não depende de polinizadores, mas pode aumentar sua produtividade com eles.
Garibaldi, o coordenador do trabalho, percorreu as plantações de framboesa da Patagônia e observou: “A visão dos agricultores tem mudado nos últimos anos, mas ainda não dão muita importância aos polinizadores. A prioridade é o retorno econômico de curto prazo, sem uma visão de longo prazo.” Ele ressaltou: “Existem alternativas ao modelo mais adotado de produção agrícola, com base em monocultura e fertilizantes”.
Os autores do artigo da Science ressaltam o conceito de intensificação ecológica, que consiste em adotar medidas de promoção da biodiversidade capazes de aumentar a produtividade agrícola, sem abandonar as práticas convencionais. Essas medidas podem oferecer condições de vida mais amigáveis aos polinizadores, como o plantio de plantas com flores em faixas dos terrenos ou à margem das estradas, a construção de cercas-vivas, a redução do uso de pesticidas e a recuperação das matas nativas próximas aos cultivos. Em um artigo de 2014 na Frontiers in Ecology and the Environment, Garibaldi e sua equipe detalham as possibilidades de implantar essas e outras medidas para ampliar a densidade de polinizadores nas propriedades rurais.
“O próximo passo é implementar essas práticas agroecológicas”, disse Garibaldi. “Aproveitamos todas as oportunidades para apresentar essas possibilidades, para escutar e aprender.” A próxima oportunidade será na quarta reunião da Plataforma Internacional para Biodiversidade e Serviços Ambientais (IPBES), um órgão intergovenamenal criado em 2012 e aberto a todos os países membros das Nações Unidas, marcada para os dias 22 a 28 de fevereiro em Kuala Lumpur, Malásia.
Artigos
GARIBALDI, L. A. ​et al. Mutually beneficial pollinator diversity and crop yield outcomes in small and large farms. Science, v. 351, n. 6271, 22 jan. 2016, p. 388-391.
GARIBALDI, L. et al.
From research to action: enhancing crop yield through wild pollinators. Frontiers in Ecology and the Environment, v. 12, n. 8, p. 439–447, 2014.
MILFONT, M. de O et al.
Higher soybean production using honeybee and wild pollinators, a sustainable alternative to pesticides and autopollination. Environmental Chemistry Letters, v. 11, n. 4, p. 335-341, 2013.

29 de ago. de 2016

O umbu pode dar origem a um creme que age contra o envelhecimento da pele




Estudo suíço-brasileiro mostra que o umbu, fruto do sertão nordestino, pode dar origem a um creme que age contra o envelhecimento da pele.

Típico da Caatinga, o umbu, fruto do umbuzeiro, é conhecido por suas ricas propriedades nutricionais, com destaque para o elevado teor de vitamina C, alto índice aquoso e vários componentes voláteis, especialmente nos frutos maduros. No sertão nordestino, ele é largamente consumido in natura ou processado, na forma de polpa, geleia, doce ou sorvete. Recentemente, um grupo de cientistas brasileiros e suíços concluiu um estudo que revelou novas propriedades dessa fruta arredondada, de casca aveludada e sabor levemente azedo. Eles descobriram que o umbu (Spondias tuberosa) é rico em compostos fenólicos com atividade antioxidante, o que faz dele um insumo potencial para fabricação de cosméticos com ação sobre o envelhecimento da pele, como cremes antirrugas ou contra flacidez. Duas das substâncias identificadas são inéditas.


Coordenada pela farmacêutica Vanderlan da Silva Bolzani, professora do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (IQ-Unesp) de Araraquara, a pesquisa teve a participação da Universidade de Genebra (Unigen), na Suíça, e do Centro de Inovação e Ensaios Pré-Clínicos (CIEnP), empresa privada sem fins lucrativos com sede em Florianópolis (SC). “O estudo fornece a primeira documentação completa sobre o isolamento de compostos da polpa do umbu, com propriedades antioxidantes e rejuvenescedoras da pele”, explica Maria Luiza Zeraik, que atuou na equipe quando fazia pós-doutorado. Atualmente, ela é professora do Departamento de Química do Centro de Ciências Exatas da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná. “Um aspecto relevante do nosso estudo é promover uma inovação tecnológica com valor social para a região Nordeste”, diz Maria Luiza. O umbuzeiro é importante na Caatinga porque dá frutos durante a estação seca e representa uma fonte de renda para a população local.


A pesquisa contou com recursos dos governos suíço e brasileiro e teve financiamento da FAPESP por meio de uma bolsa de pós-doutorado, concedida à Maria Luiza, além de um projeto do Sisbiota, programa do CNPq em parceria com a Fundação. A partir de 2014, o estudo integrou a carteira de projetos do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da FAPESP, coordenado por Glaucius Oliva, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFSC-USP) de São Carlos.


Dois pedidos de patentes foram depositados no Brasil e no exterior. Eles são pertinentes ao processo de extração e isolamento de compostos presentes na polpa do umbu relativos às propriedades antioxidantes, à inibição da acetilcolinesterase, enzima que promove as ligações (sinapses) entre os neurônios. “As substâncias relacionadas à acetilcolinesterase poderiam, no futuro, originar um medicamento ou um suplemento alimentar para tratar a perda da memória, quadro comum em idosos”, diz Vanderlan.


© FABIO COLOMBINI

Uva desenvolvida para clima tropical conquista Inglaterra


Uma uva preta, com sabor especial, bom equilíbrio entre açúcar e acidez e sem sementes está fazendo sucesso na Europa e conquistou o exigente mercado britânico. A BRS Vitória  é a primeira cultivar brasileira de uva sem sementes tolerante ao míldio, principal doença fúngica que ataca as videiras no País. A resistência permite a redução das aplicações de agroquímicos no parreiral.
O sabor diferenciado da nova uva trouxe uma importante vantagem competitiva à balança comercial brasileira: exportações de uvas entre abril e dezembro, fazendo o País abocanhar boa fatia do mercado britânico, que nessa época costumava ser abastecido pelas uvas da Itália, Espanha e Grécia, pelo preço mais acessível. Atualmente, somente o grupo Labrunier envia semanalmente cinco toneladas da BRS Vitória para a Inglaterra.
A cultivar foi desenvolvida especialmente para as condições climáticas do Brasil no âmbito do Programa de Melhoramento Genético de Uva da Embrapa Uva e Vinho (RS). Recomendada para regiões de clima tropical úmido (Sudeste brasileiro), e tropical semiárido, a cultivar vem se destacando especialmente do Vale do Submédio São Francisco (VSF), nos municípios de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), região que vem se sobressaindo no mercado de produção e exportação de uvas no Brasil. Lançada em 2012, a cultivar é adotada por 90% dos associados da Cooperativa de Produtores Exportadores do Vale do São Francisco (Coopexvale).
A nova cultivar permite duas safras anuais com planejamento da época da colheita. Essa versatilidade permite a programação da produção para coincidi-la com as janelas de mercado de outros países exportadores para a Europa e competir com eles com preços mais vantajosos. O pesquisador da Embrapa João Dimas Garcia Maia, um dos coordenadores do programa de melhoramento genético, explica que, com irrigação e uso de produtos para promover brotações, é possível escalonar podas durante o ano todo e proporcionar as colheitas para o melhor período do mercado.
"Nas condições tropicais, a diminuição na duração do ciclo possibilita deixar as plantas em repouso por cerca de 30 a 40 dias entre os sucessivos ciclos além de aumentar o acúmulo de açúcares durante a maturação resultando em uvas mais doces," conta Maia ressaltando que a cultura em clima tropical não sofre de limitação de calor que ocorre nas lavouras de clima temperado.
A tolerância ao míldio da BRS Vitória resultou em vantagens econômicas e ambientais. Segundo Maia, essa é uma característica que está sendo priorizada no desenvolvimento de novas cultivares de uva. "Ser tolerante possibilita uma produção mais sustentável, pois se pode reduzir cerca de 20%as aplicações de fungicidas, trazendo benefícios aos viticultores, ao meio ambiente e também aos consumidores", enumera.
Conquistando o mercado 
Há 28 anos atuando na região de Petrolina, o empresário Arnaldo Eijsink está atento às tendências internacionais e em busca de novas cultivares a serem plantadas nas fazendas Labrunier, do grupo BrasilUvas. Ele foi um dos pioneiros em testar e se interessar pela 'BRS Vitória' no campo. O produtor compartilhou sua experiência durante a palestra "Tendência do mercado nacional e internacional de uvas de mesa", no XIII Congresso Brasileiro de Viticultura e Enologia.
A BrasilUvas é a maior produtora de uva de mesa do Brasil, com uma área de 900 hectares em produção, com a maior área experimental de novas variedades do mundo. Em torno de 60% de sua produção é comercializada no mercado interno, e o restante no mercado externo, diretamente para grandes redes varejistas, como Walmart, Wholefoods e Loblaws.
Segundo relatou Eijsink, a 'BRS Vitória' foi uma das uvas apresentadas em um Dia de Campo com 30 novas variedades de uvas para potenciais compradores nacionais e internacionais. "Todos os participantes ficaram admirados com o sabor diferenciado da cultivar desenvolvida pela Embrapa", lembra o empresário.
Mário Gardenalli, presidente da Cooperativa Coopexvale, foi um dos responsáveis pela validação em área comercial da 'BRS Vitória', e já há três anos produz a uva durante duas safras anuais. Gardenalli destaca o sabor diferenciado, a redução de 20% no uso de defensivos e a alta fertilidade como os maiores benefícios da cultivar. "Conseguimos realizar duas safras por ano e a cada colheita ela produz de 20 a 22 toneladas por hectare. Mas o que mais chama atenção é o sabor diferenciado, as pessoas ficam com cara de surpresa quando a provam pela primeira vez", relata.
A aceitação da cultivar está tão grande no Brasil, que cerca de 90% dos 22 associados à Coopexvale, representando 10% da área plantada da cooperativa, ou seja 33 dos 330 hectares já produzem a cultivar. "Estamos prospectando o mercado da 'BRS Vitória' no exterior, já enviamos amostras para nove clientes da Cooperativa", informa.
Gardenalli apenas reforça que os produtores devem estar atentos ao ponto certo de colheita da cultivar, pois a 'BRS Vitória' fica com a cor preta e um bom índice de açúcar, parecendo que está pronta. "O ponto certo da colheita é quando a uva está sem adstringência e, se não estiver no ponto certo, o consumidor poderá estranhar o sabor. É importante provar a uva e só colher no momento certo", alertou. A 'BRS Vitória' foi uma das escolhidas pela Cooperativa para ser comercializada com o selo "Gotas de Mel", por sua característica adocicada.
Segundo o pesquisador João Dimas Garcia Maia, no Vale do São Francisco, a boa adaptação das novas cultivares desenvolvidas pela Embrapa, associada a uma elevada produtividade e à qualidade das uvas tem estimulado a ampliação do cultivo do material. "Muitos produtores estão substituindo as copas, principalmente de cultivares do grupo ‘Itália' pelas cultivares da Embrapa, pelo desempenho que elas estão apresentando", comenta. Estima-se que atualmente cerca de 500 ha já sejam cultivados com os materiais desenvolvidos pela Embrapa: a cultivar 'BRS Vitória', em cerca de 200 ha, a 'BRS Isis', em 100 ha, a 'BRS Magna', em 140 ha, e a 'BRS Núbia', em cerca de 20 ha.
De acordo com a pesquisadora Patrícia Ritschel, também coordenadora do Programa de Melhoramento Genético da Uva da Embrapa, a 'BRS Vitória' já foi aprovada para o plantio nas principais regiões produtoras de clima tropical e subtropical como São Paulo, Paraná, Minas Gerais além do próprio Vale do Submédio do São Francisco. Ela adianta que a equipe está trabalhando no sistema de manejo para que produtores da região Sul do País também possam começar a produzi-la. "Estamos ajustando algumas questões de controle de produção e época de colheita, mas acreditamos que em regiões de clima mais úmido como no norte do Paraná ou no Rio Grande do Sul, o ideal será a utilização do cultivo protegido, para evitar problemas como a podridão-da-uva-madura", detalha.
Os cuidados no manejo dessas cultivares no campo, definição do ponto ideal de colheita, sistema de embalagens, classificação e resfriamento pós-colheita, associado a uma boa rede de distribuição tem posicionado bem as cultivares da Embrapa no mercado, tornando possível aos consumidores conhecer as novas uvas e impulsionar a sua demanda. Segundo Patricia Ritschel, a uva 'BRS Vitória' produzida nas regiões tropicais e subtropicais brasileiras já chegou às principais redes de supermercados de grandes cidades do País. Segundo Maia, atualmente, estima-se que o mercado interno tem sido o maior consumidor da uva.
Características da ‘BRS Vitória'
A ‘BRS Vitória' é uma uva preta-azulada, vigorosa, com ciclo precoce (90 a 135 dias da poda à colheita, dependendo da região), com alta fertilidade de gemas, com média de dois cachos por ramo. O peso médio de cachos é em torno de 250-300 gramas e suas bagas com tamanho de 17 mm x 19 mm. Diante dessa fertilidade de gemas, o produtor facilmente consegue atingir uma produtividade de 30-40 toneladas por hectares ao ano. No Vale do São Francisco, visando obter alta qualidade da fruta, os produtores estão trabalhando com dois ciclos produtivos de 15-20 t/ha/ciclo. Ela apresenta teor de açúcar acima de 19º Brix, podendo chegar a 23º Brix, em regiões tropicais. Tem bom comportamento em relação ao rachamento de bagas.
O sabor especial dessa cultivar, sua principal característica, somente surge quando a uva está no ponto ideal de colheita. O teor de açúcar pode atingir altos níveis, mas recomenda-se a colheita quando a uva atingir pelo menos 19º Brix, pois é neste ponto em que ocorre o melhor equilíbrio entre açúcar e acidez, conferindo-lhe um sabor especial, bem distinto e sem adstringência na casca. Após a colheita no ponto ideal, a 'BRS Vitória' pode ser conservada por até 30 dias em câmara fria.
A 'BRS Isis' e a 'BRS Núbia' são outras cultivares de uva de mesa desenvolvidas pela Embrapa Uva e Vinho para regiões tropicais e subtropicais que estão apresentando boa aceitação. "A cor rosa e o formato diferenciado da baga da 'BRS Isis' têm chamado atenção. Já a BRS Núbia é uma uva com semente e que apresenta um grande tamanho de baga e de cor preta uniforme. Elas também estão tendo boa aceitação, mas a 'BRS Vitória' tem se destacado", avalia Maia.
Programa de Melhoramento Genético de Uva
Desde 1977, dando sequência às primeiras iniciativas da antiga Estação Experimental de Caxias do Sul, a Embrapa Uva e Vinho conduz um Programa de Melhoramento voltado à obtenção de cultivares para processamento (vinho e suco) e para mesa. Os pesquisadores buscam desenvolver novas cultivares com melhor adaptação às diferentes condições edafoclimáticas das regiões onde a videira é cultivada no Brasil. Os melhoristas almejam elevadas qualidade e produtividade, alta tolerância às doenças que atacam a cultura, como o míldio e o oídio, e materiais voltados a diferentes finalidades (mesa, suco e vinho).
O Programa utiliza métodos clássicos de melhoramento com manutenção de um Banco de Germoplasma,acervo que reúne cerca de 1,4 mil tipos de uva, entre espécies cultivadas e silvestres, variedades, clones e seleções. Estão em fase de teste três seleções para vinho, três seleções para suco, e 38 seleções de uvas de mesa.
Em cerca de três anos, a Embrapa iniciará uma nova etapa de teste de validação com novas cultivares de uvas sem sementes, incluindo seleções de cachos mais soltos e com bagas maiores, para diminuir a demanda de mão de obra e uso de reguladores de crescimento. Nesse grupo, que está em processo de limpeza de viroses, há uvas brancas, vermelhas e pretas de diferentes sabores.
Fonte: http://www.seagri.ba.gov.br/noticias/2016/08/24/uva-desenvolvida-para-clima-tropical-conquista-inglaterra